Esse trabalho dá-lhe sono?

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Falemos de um dos recursos mais importantes e estratégicos para o indivíduo e, consequentemente, para as organizações: o sono.

É facilmente reconhecido por todos que existem situações em que os colaboradores trabalham com insuficiente tempo de sono e que é real a variedade de efeitos que a privação de sono tem no desempenho individual e organizacional.

São inúmeras as vezes em que dormir poucas horas é apontada como uma característica essencial para o sucesso

O exemplo errado é o primeiro contribuinte. São inúmeras as vezes em que dormir poucas horas é apontada como uma característica essencial para o sucesso. É longa a lista de executivos de topo, e pessoas de sucesso, que são conhecidos e exultados por dormir pouco. Mas esses executivos não estão dando um bom exemplo, especialmente quando se trata de obter o melhor desempenho do talento numa organização. Em geral, as empresas assumem que simplesmente obter o talento certo em suas organizações levará a altos níveis de produtividade. E que o dia de trabalho não tem limite de horas. O talento e o compromisso aguentam tudo.

Quantos exemplos conhecemos de lideranças que chegam regularmente ao raiar do dia e/ou ficam acordados até bem tarde  e esperam que as seus colaboradores fiquem no escritório a qualquer hora do dia ou da noite? E lideranças que enviam e-mails noite dentro e esperam uma resposta antes do dia de trabalho da manhã seguinte levando a que os colaboradores sintam a necessidade de monitorizar os e-mails até bem tarde?

Estas situações interferem claramente nos padrões de sono dos colaboradores, gerando stress, cansaço e até, o muito falado, burnout. E comprometem o desempenho.

Outro contribuinte para insuficiência de sono é o desalinhamento entre os horários de trabalho e relógio biológico dos colaboradores. Todos nós temos preferências de acordo com o nosso organismo. Há quem goste de começar a trabalhar o mais cedo possível pois sente-se no máximo das suas capacidades cedo. E há quem seja mais “coruja” e prefira os horários de trabalho mais tarde. Quem preferia o horário da manhã na escola? Ou o da tarde?

A Ciência revela que cada um de nós tem o melhor momento para adormecer e acordar, um ritmo biológico personalizado conhecido como “cronotipo”. Quando não dormimos no momento em que nosso corpo quer dormir – a chamada noite biológica – não dormimos tão bem ou por muito tempo, criando condições não apenas para a fadiga, o mau desempenho no trabalho e os erros, mas também para os problemas de saúde que vão desde doenças cardíacas, obesidade, ansiedade e depressão.

E os estudos científicos desfilam conclusões:

  • Cerca de  80% das pessoas tem horários de trabalho desalinhados dos relógios internos
  • Estudos sobre trabalhadores no call center de uma empresa de telecomunicações norte americana mostram que esses colaboradores (com desalinhamento) estão mais stressados e podem sentir mais desconforto e dor relacionados com o trabalho. É o desalinhamento – não o número total de horas  de sono em si – o que realmente importa.
  • Um estudo de 2015 da Harvard Medical School apontou que, para os noctívagos, trabalhar durante o dia aumenta, imagine-se, o risco de diabetes.

São muitos os exemplos de empresas e organizações que já projetam os horários de trabalho alinhados com os “cronotipos” dos seus colaboradores

Mas o “cronotipo” determina muito mais do que quando nós dormimos ou acordamos. Ele orquestra picos e baixos de energia previsíveis ao longo do dia, ao longo das 24 horas. Identifica as horas em que o corpo está menos adaptado para a vigília e as horas onde o corpo está mais activo, quando  o raciocínio é mais célere e os tempos de reação são rápidos.

São muitos os exemplos de empresas e organizações que já projetam os horários de trabalho alinhados com os “cronotipos” dos seus colaboradores. Empresas que implementam programas de formação que ajudam a identificar quando os colaboradores estão prontos para projetos criativos ou desafiadores, geralmente nas manhãs para os que acordam cedo e as tardes para os que acordam tarde. Períodos de baixa energia são destinados a tarefas mais comuns, como lidar com e-mails ou realizar tarefas administrativas.

No caso dos call centers, em que muitos serviços trabalham numa franja horário muito alargada (no limite 24/7) faz todo o sentido ter em atenção o que atrás foi apresentado. Adequar os horários dos colaboradores aos seus “cronotipos” vai de certeza ter impactos positivos na produtividade, redução de stress e burnout, aumento da motivação e satisfação dos colaboradores.

Estamos a falar de ter os colaboradores a trabalharem no horário certo. Não faz sentido ter uma “coruja” a entrar no primeiro turno da manhã, passar o dia a encharcado em cafés, passar o dia com produtividade baixa e depois deixá-lo ir para casa quando vai atingir o pico das suas capacidades.  Mas na maior parte dos casos são apenas necessários pequenos ajustes de 1-2 horas nos horários (quando possível). Não de uma revolução brutal.